Santa Dulce dos Pobres - O anjo bom do Brasil

 

Quando nos referimos aos santos, com frequência, recorremos a terras estrangeiras, principalmente a países europeus. Mas, desde o dia treze de outubro do ano passado, podemos dizer mais uma vez que o Brasil também é terra de santos.

Embora por aqui passaram pessoas que floriram onde foram plantadas, fizeram de suas vidas o Evangelho vivo, morreram com odor de santidade e reconhecidas santas pela Igreja, como: São José de Anchieta (nascido na Espanha), Santa Paulina (nascida na Itália), dentre outros; nascidos nesta terra de Santa Cruz, já tínhamos São Frei Galvão (Guaratinguetá-SP), e agora Santa Dulce, a primeira santa nascida no Brasil. E, por isso, hoje a Igreja celebra sua primeira festa litúrgica.

Nascida em 26 de maio de 1914, em Salvador, Bahia, Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes foi uma criança alegre e muito ativa, gostava de brincar de boneca, soltar pipa e jogar futebol, esporte que era muito apreciado por ela.
Aos seis anos, Maria Rita já demonstrava seu lado generoso e caridoso. Quando moradores de rua passavam em frente sua casa, a menina pedia mantimentos aos pais e os distribuía a eles. 

Mantendo a vocação de cuidar das pessoas, característica herdada do pai, dentista e professor universitário, que em seu consultório atendia aqueles que não poderiam pagar. Aos 13 anos, a menina Rita transformou sua casa em um centro de atendimento a pessoas carentes – tamanha era a quantidade de pessoas que lá pediam ajuda, o local ficou conhecido como a portaria de São Francisco. Também nesta época, depois de visitar uma área de extrema pobreza com sua tia, despertou em seu coração o desejo de se consagrar à vida religiosa e, assim, se entregar inteiramente a Jesus na figura dos menos favorecidos.
Depois que se formou professora, exigência feita pelo pai, Maria Rita ingressou na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, em 8 de fevereiro de 1933, quando “nasceu Irmã Dulce". O nome foi escolhido em homenagem à sua mãe, que faleceu quando ela tinha apenas 7 anos.
Já no convento, um dos primeiros lugares a ser ocupado por Irmã Dulce e seus doentes foram os arcos da igreja do Nosso Senhor do Bonfim, porém, com quinze dias, o pároco pediu para que a freira retirasse aquelas pessoas dali alegando que o turismo estava sendo prejudicado. Obediente, Irmã Dulce e os enfermos saíram dos arcos da igreja. Sem ter para onde ir, invadiu cinco casas desocupadas, em um bairro de Salvador, para abrigar mais doentes que recolhia nas ruas. Expulsa mais uma vez, ela peregrinou por uma década, levando seus doentes por vários locais da cidade. Até que, em 1949, depois de muita insistência, conseguiu a aprovação de sua superiora e transformou o galinheiro do convento em um ambulatório, e com as galinhas que ali estavam fez canja e alimentou os que tinham fome.

Conhecida como a freira lindona, Irmã Dulce passava diariamente nas casas e comércios da cidade pedindo “uma esmolinha para seus pobres”, como costumava chamar aqueles que ajudava. Além de cuidar dos que estavam no ambulatório, Irmã Dulce visitava os pobres e doentes em suas casas e procurava atender suas necessidades. 

Pequena de estatura (1,48m), mas grande na fé, entregava todos os problemas e aflições nas mãos de Nossa Senhora da Conceição, e não deixava de acreditar nenhum instante na providência divina. Dormia apenas quatro horas por dia, pois dizia que não teria tempo de ajudar o próximo, se estivesse descansando.

Para por em prática o que Deus colocava em seu coração, a pequena freira muitas vezes saía à noite, sozinha, abria as portas do convento para estranhos, descumprindo algumas regras da congregação. Além disso, passava mais tempo com os pobres e doentes do que com suas irmãs no mosteiro; o que lhe causou grandes problemas, inclusive o afastamento físico de suas irmãs, chamado de exclaustração. Mesmo sofrendo por não conviver com suas irmãs, Santa Dulce não parou seu apostolado, pelo contrário, fez de sua dor combustível para levar a missão adiante. 

Santa Dulce entendia a humilhação como crescimento espiritual. Certa vez, ao pedir esmola a um feirante, Santa Dulce estendeu sua mão esquerda e levou uma cusparada. Ao se deparar com a situação, humildemente a freira sorriu e disse: "Isso aqui é o meu, é o que eu mereço". Em seguida, estendeu a mão direita, dizendo: "Agora dê o de meus pobres".

As obras de Santa Dulce eram tão importante para a Bahia que, em um momento de grande crise nos hospitais do Estado, o hospital Santo Antônio, inaugurado em 1983, chegou a ser o único aberto e recebendo pacientes, em Salvador. Quando não tinha leito no hospital, era no quarto da santa que os doentes ficavam.

Não foi só pelos pobres que Santa Dulce se desgastou. No ano de 1955, sua irmã Dulcinha corria o risco de perder a vida devido a complicações na gestação, Santa Dulce então prometeu que se a gestação de sua irmã chegasse ao fim e com sucesso, ela passaria a dormir em uma cadeira. Assim fez durante trinta anos, só não cumpriu pelo resto de sua vida por insistência de seu médico, que temia que a enfisema pulmonar que a freira tinha se agravasse ainda mais.

Grande admiradora de São João Paulo II, Santa Dulce teve a graça de estar com o santo pontífice por duas vezes. A primeira foi, em 1980, quando o então Papa visitou Salvador. Santa Dulce descumpriu as recomendações médicas e mesmo com a saúde fragilizada foi à missa celebrada pelo Papa. Na ocasião, a freira foi chamada a subir ao altar, recebeu uma benção especial e um terço. Santa Dulce foi ovacionada por meio milhão de pessoas. Por conta da chuva que tomou irmã Dulce contraiu pneumonia e passou vinte dias hospitalizada. 


Na segunda visita do pontífice, em 1991, a admiração já era recíproca e São João Paulo II tirou um tempo em sua agenda só para estar com Santa Dulce, que mesmo muito doente seguia com seu apostolado.

Em 13 de março de 1992, cinco meses após a visita do Papa, aclamada pelo povo e com fama de santidade, o anjo bom da Bahia partiu ao encontro de Deus. Levou uma multidão ao seu velório, fiéis católicos e de outras religiões, pobres, ricos, personalidades e políticos, e todos diziam uma coisa só: "Irmã Dulce é Santa".


         Oração a Santa Dulce dos Pobres

Senhor nosso Deus, lembrados de vossa filha, a santa Dulce dos Pobres,
cujo coração ardia de amor por vós e pelos irmãos,
particularmente os pobres e excluídos, nós vos pedimos:
dai-nos idêntico amor pelos necessitados;
renovai nossa fé e nossa esperança e concedei-nos,
a exemplo desta vossa filha,
viver como irmãos, buscando diariamente a santidade,
para sermos autênticos discípulos missionários de vosso filho Jesus.
Amém.

    Santa Dulce dos Pobres, rogai por nós!

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