Os Dons do Espírito Santo


Nesta solenidade de Pentecostes, nós somos convidados a conhecer e refletir um pouco mais sobre a ação do Espírito Santo em nossas vidas.  Por isso, meditaremos um pouco sobre os seus dons. Em nosso batismo, nós recebemos esses dons de forma infusa, e, na nossa crisma, eles são aperfeiçoados. Sem eles, nós não conseguimos chegar ao céu, pois eles são necessários à vida cristã. Para usufruir destes dons, é preciso ser batizado e estar em estado de graça. Diz-nos o Catecismo da Igreja Católica, nos parágrafos 1830 e 1831: “A vida moral dos cristãos é sustentada pelos dons do Espírito Santo. São disposições permanentes, que tornam o homem dócil aos impulsos do mesmo Espírito (...) Tornam os fiéis dóceis para obedecer prontamente às inspirações divinas”.

“Que o teu bom espírito me conduza por uma terra aplanada.” (Sl 143, 10)


Os sete dons do Espírito Santo:

  1. O temor de Deus


O dom do Temor de Deus ajuda-nos a ter um coração contrito; um coração arrependido que sente horror ao pecado. Há pessoas que sentem orgulho, se vangloriam e contam vantagem do próprio pecado; principalmente, essas devem pedir o dom do Santo Temor para que o seu coração orgulhoso possa ser transformado.  É importante ressaltar que esse dom não é um medo de Deus, mas sim medo de perdê-lo por causa do pecado, medo de se afastar d’Ele. É preciso constantemente lutar para não ter uma vida de prazeres desordenados. Nós comemos muito, bebemos muito, preocupamo-nos muito e é preciso ter um equilíbrio em tudo que fazemos. Esse é o dom que nos ajuda a evitar essa desordem. 

  1. Fortaleza


“Tudo posso naquele que me fortalece” (Fl 4,13). Deus dá a fortaleza a quem pede, para suportar as maiores dificuldades e não desistir. Por isso, nós precisamos desse dom para que as nossas preocupações e problemas não acabem conosco. Ele nos ajuda a fazer coisas corajosas para servir a Deus. Os santos, por exemplo, defenderam a fé corajosamente. Esse dom também nos ajuda a suportar pacientemente grandes sofrimentos. Precisamos fazer aquilo que está ao nosso alcance e entregar a Deus aquilo que é impossível a nós, pois “para Ele nada é impossível” (Lc 1,37).

  1. Piedade

“Pai, seja feita a vossa vontade” (cf. Mt 6,10). Como filhos, nos damos a esse Pai querido, Deus tão bondoso e nos jogamos em Seus braços como uma criança confiante nos braços do pai. Esse dom nos faz ter sentimento filial para com Deus; uma combinação de amor, confiança e reverência. Se essa é a nossa disposição habitual para com o nosso Deus-Pai, estamos vivendo o dom da Piedade. Quem tem esse dom, reza mais, começa a sentir Deus mais perto e a pensar se Ele se agradaria ou não com os seus atos.

  1. Conselho

Muitas vezes, nós não sabemos que decisão tomar, por isso precisamos do dom do Conselho, desse auxílio de Deus. Ele aguça o nosso juízo, assim percebemos e escolhemos a decisão que será para a maior glória de Deus e o nosso bem espiritual. Este dom nos ajuda a viver sob a orientação do Espirito Santo; faz-nos saber o que fazer e o que dizer no momento certo, com a pessoa certa, da maneira certa. É importante ressaltar que tomar decisões importantes em estado de pecado mortal, quer seja sobre a vocação, a profissão, os problemas familiares ou sobre qualquer outra matéria das que enfrentamos continuamente, é um passo perigoso. Sem o dom do Conselho, o juízo humano é demasiado falível, por isso, peçamos esse dom a Deus.

  1. Inteligência


Por esse dom, conseguimos perceber a harmonia entre os vários mistérios da fé. A Inteligência é como uma antena que nos ajuda a sintonizar e, assim, entender as verdades de fé. Santo Tomás de Aquino possuiu esse dom ao escrever a sua suma teológica, por exemplo, já que lá ele organizou claramente as verdades teológicas. Peçamos também esse dom ao ler bíblia, o catecismo e ao ouvir as pregações, para podermos enxergar aquilo que não conseguiríamos por nossas próprias forças. 

  1. Ciência

O dom de Ciência faz com que o cristão penetre na realidade deste mundo sob a luz de Deus; que ele veja cada criatura como reflexo da sabedoria do Criador. Torna-nos aptos para reconhecer o que nos é espiritualmente útil ou prejudicial. Está intimamente ligado ao dom do Conselho, mas antes de escolher é preciso conhecer. Por exemplo, se percebo que assistir inúmeros episódios na Netflix de alguma série determinada estraga o meu gosto pelas coisas espirituais, o dom da Ciência induz-me a deixar de assistir tantos episódios e a procurar ver um filme sobre a vida de um santo, ou procurar substituir por leituras espirituais frequentes. 

  1. Sabedoria

Concede-nos o adequado sentido de proporção para sabermos apreciar as coisas de Deus. Damos ao bem e à virtude o seu verdadeiro valor. É o maior de todos os dons, está ligado ao amor de forma mais direta. Nesse dom, nós nos agarramos a Deus com amor, com atos espontâneos. Quando temos esse dom, nos alegramos com as coisas de Deus, tendo um coração voltado para o alto. Esse dom nos faz descobrir a sabedoria da cruz, do amor. Somos feitos para Deus! Um jovem que “perde” o seu sábado a noite e doa esse tempo a um encontro do grupo jovem, por exemplo, foi conduzido pelo dom da Sabedoria, mesmo que não o saiba.


Mensagem final

Às vezes, não sentimos os dons dentro de nós, mesmo estando em estado de graça, mas isso é normal. Aquilo que recebemos no Batismo, inclusive os Dons do Espírito Santo, não estão ligados ao cérebro, sistema nervoso ou às emoções, mas estão ligados à nossa alma, ao íntimo de nosso ser. Se, por milagre, pudéssemos ver a nossa alma, ficaríamos encantados com tamanho “equipamento” que o Senhor nos deu para enfrentarmos esta vida e nos preparar para a vida eterna. Por isso, façamos o propósito de nunca mais deixar de suplicar esses dons em tudo aquilo que fizermos.


“Porque todo aquele que pede, recebe. Quem busca, acha. A quem bate, se abrirá.” 

(Mt 7, 8)

                                                Gabriel de Jesus

                                                     Seminarista


Fontes:

Catecismo da Igreja Católica

A fé explicada

Homilia Padre Paulo Ricardo

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