SANTA MARIA MÃE DE DEUS


SOLENIDADE DE SANTA MARIA MÃE DE DEUS




Iniciamos um novo ano e a Igreja nos convida a confiá-lo à celeste proteção de Nossa Senhora, que hoje a liturgia nos faz invocar com o seu título mais antigo e importante, o de Mãe de Deus.
Com o seu "sim" ao anjo, no dia da Anunciação, a Virgem concebeu no seu seio, por obra do Espírito Santo, o Verbo eterno. E em Belém, na plenitude dos tempos, Jesus nasceu de Maria: o Filho de Deus fez-se homem para nossa salvação e a Virgem tornou-se verdadeira Mãe de Deus. Este dom imenso que Maria recebeu não está reservado só a ela, mas a todos nós. De fato, na sua virgindade fecunda Deus doou "aos homens os bens da salvação eterna... porque por meio dela recebemos o autor da vida" (Oração Inicial). Portanto, Maria depois de ter dado uma carne mortal ao Unigênito Filho de Deus, tornou-se Mãe dos crentes e da humanidade inteira. Ainda envolvidos pelo clima espiritual do Natal, no qual contemplamos o mistério do nascimento de Cristo, hoje celebramos com estes mesmos sentimentos a Virgem Maria.



As leituras bíblicas desta solenidade ressaltam principalmente o Filho de Deus que se fez homem e o “nome” do Senhor. A primeira leitura apresenta-nos a solene bênção que os sacerdotes pronunciavam sobre os Israelitas nas grandes festas religiosas: ela é marcada precisamente pelo nome do Senhor, repetido três vezes, como que para exprimir a plenitude e a força que deriva desta invocação: “O Senhor falou a Moisés, dizendo: ‘Fala a Aarão e a seus filhos: ao abençoar os filhos de Israel, dizei-lhes: ‘O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face, e se compadeça de ti! O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz!’ Assim invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel, e eu os abençoarei” (Nm 6,22-27). Este texto de bênção litúrgica, de fato, evoca a riqueza de graça e de paz que Deus concede ao homem, como uma disposição benevolente em relação a ele, e que se manifesta com o “brilhar” do rosto divino e o “voltar” para nós. A Igreja ouve de novo hoje estas palavras, enquanto pede ao Senhor que abençoe o novo ano há pouco iniciado. É bom iniciar um novo trecho de caminho pondo-se com decisão na via da paz.



O trecho do evangelho de hoje termina com a imposição do nome de Jesus, enquanto Maria participa em silêncio, meditando no coração, o mistério deste seu Filho, que de modo totalmente singular é dom de Deus. Mas o texto evangélico põe em particular evidência os pastores, que se vão embora “glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto” (Lc 2, 20). O cordeiro tinha-lhes anunciado que na cidade de Davi, isto é, em Belém, tinha nascido o Salvador e que teriam encontrado o sinal: um menino envolto em panos numa manjedoura (cf. Lc 2, 11-12). Tendo partido às pressas, eles encontraram Maria, José e o Menino. Observemos como o evangelista fala da maternidade de Maria a partir do Filho, daquele “menino envolto em panos”, porque é ele, o Verbo de Deus (cf. Jo 1, 14), o ponto de referência, o centro do acontecimento que se está a cumprir e é ele quem faz com que a maternidade de Maria seja qualificada como divina.


Esta atenção prevalecente que as leituras de hoje dedicam ao “Filho”, ou seja, a Jesus, não diminui o papel da Mãe, aliás, coloca-a na justa perspectiva: de fato, Maria é a verdadeira Mãe de Deus precisamente em virtude da sua total relação com Cristo. Portanto, glorificando o Filho honra-se a Mãe e honrando a Mãe glorifica-se o Filho. O título de “Mãe de Deus”, a que hoje a liturgia dá relevo, ressalta a missão única da Virgem Santa na história da salvação: missão que está na base do culto e da devoção que o povo cristão lhe reserva. De fato, Maria não recebeu o dom de Deus só para si mesma, mas para o levar ao mundo: na sua virgindade fecunda, Deus concedeu aos homens os bens da salvação eterna. E Maria oferece continuamente a sua mediação ao Povo de Deus, que peregrinam na história rumo à eternidade, como outrora a oferecera aos pastores de Belém. Ela, que deu a vida terrena ao Filho de Deus, continua a oferecer aos homens a vida divina, que é o próprio Jesus e o seu Espírito Santo. Por isso é considerada mãe de todos os homens que nascem para a Graça e ao mesmo tempo é invocada como Mãe da Igreja.

É no nome de Maria, Mãe de Deus e dos homens, que desde o dia 1º de Janeiro de 1968 se celebra em todo o mundo o Dia Mundial da Paz. A paz é dom de Deus, como ouvimos na primeira leitura: “O Senhor... te conceda a paz” (Nm 6, 26). Ela é o dom messiânico por excelência, o primeiro fruto da caridade que Jesus nos doou, é a nossa reconciliação e pacificação com Deus. 

E o Evangelho acrescenta também que Maria "conservava todas estas coisas, meditando-as no seu coração" (Lc 2, 19). Como Ela, também a Igreja conserva e medita a Palavra de Deus, confrontando-a com as diversas e mutáveis situações que encontra ao longo do seu caminho. Ao olharmos Cristo, vindo sobre a terra para nos dar a sua paz, nós celebramos no primeiro dia do ano o "Dia Mundial da Paz", que começou por iniciativa do Papa Paulo VI em 1968.

Do tempo litúrgico que estamos a viver chega até nós uma grande lição: para acolher o dom da paz, devemos abrir-nos à verdade que foi revelada na pessoa de Jesus, que nos ensinou o "conteúdo" juntamente com o "método" da paz, isto é, o amor. De fato, Deus, que é o Amor perfeito e subsistente, revelou-se em Jesus, assumindo a nossa condição humana. Deste modo, indicou-nos o caminho da paz: o diálogo, o perdão, a solidariedade. Eis a única estrada que conduz à paz verdadeira. 

Dirijamos o olhar a Santa Maria, que hoje abençoa o mundo inteiro mostrando o seu divino filho, o "príncipe da paz" (Is 9, 5). Com confiança, invoquemos a sua poderosa intercessão a fim de que a família humana, abrindo-se à mensagem evangélica, possa transcorrer o ano que inicia hoje na fraternidade e na paz. A paz é obra de consciências que se abrem à verdade e ao amor. Que Deus nos ajude a progredir neste caminho no novo ano que nos concede para viver. Assim seja. Um abençoado 2014 a todos.


D. Anselmo Chagas de Paiva OSB.