A IGREJA NA HISTÓRIA DO RIO DE JANEIRO


O Rio de Janeiro já se prepara para as comemorações dos 450 anos de sua fundação, em março do próximo ano. Ao longo dos séculos, a Igreja Católica teve uma participação decisiva na história e na cultura da cidade. Principalmente nos primeiros tempos de Brasil Colônia e durante o período imperial, ordens religiosas tiveram estreita ligação com os acontecimentos históricos. Jesuítas, beneditinos, carmelitas e franciscanos foram os primeiros a se estabelecerem na cidade.

Havia uma ligação profunda entre Igreja e Estado, de acordo com o frei Sandro Roberto da Costa, frade franciscano e professor de história da Igreja no Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis. “Nesse período colonial existia uma ligação muito profunda. Era quase uma simbiose entre Igreja e Estado através do sistema de padroado”, destacou. A Igreja tinha uma influência profunda. Todos os navios que saíam de Portugal contavam com religiosos.
Um dos primeiros episódios históricos em que os religiosos estiveram presentes foi a expulsão dos franceses do Rio de Janeiro, em 20 de janeiro de 1567. A ofensiva lusitana para expulsão dos invasores começou em 1565 e teve participação decisiva dos jesuítas, de acordo com frei Sandro. “Desde que os portugueses optaram por expulsar os franceses que estavam na Baía de Guanabara e tomar posse da terra, contaram com a colaboração decisiva e fundamental da Igreja através dos jesuítas”, destacou.

Outro importante fato da história do Rio de Janeiro foi o estabelecimento da primeira sede cardinalícia da América Latina, com o Cardeal Joaquim Arcoverde. 
Os jesuítas foram os primeiros a se estabelecer no Rio de Janeiro. Os sacerdotes chegaram ao Brasil com o primeiro governador-geral da colônia, Tomé de Sousa, desembarcando na cidade de Salvador em 1549. Logo depois foram deslocados para o Sul. Coube aos seus cuidados a primeira igreja da cidade, dedicada a São Sebastião e construída na praia entre o Pão de Açúcar e o morro Cara de Cão.
É aos jesuítas que historiadores creditam a implantação de um sistema de educação formal no Brasil Colônia. Em 1570, já haviam aberto escolas de instrução elementar em Porto Seguro, Ilhéus, São Vicente, Espírito Santo e São Paulo de Piratininga, além dos colégios do Rio de Janeiro, Pernambuco e na Bahia. Padre Manoel da Nóbrega e José de Anchieta são nomes importantes.
Já os franciscanos chegaram em 1592 ao Brasil e se instalaram em 1607 no Rio de Janeiro. Como as demais instituições, eles se dedicavam à assistência religiosa aos colonos, além de trabalhar nas missões. Havia trabalhos em cidades vizinhas como Nova Iguaçu, Magé, São João do Meriti, Cachoeiras de Macacu. Entre os episódios históricos, houve o tradicional ‘beija-mão’ depois da chegada da família real ao Brasil.
Ao se estabelecer no Rio, em 1808, Dom João VI passou a visitar o Convento de Santo Antônio todos os anos no Dia de São Francisco para almoçar com os frades. O Dia do Fico também teve papel determinante dos franciscanos. Francisco de Santa Teresa de Jesus Sampaio, o frei Sampaio, era amigo de Dom Pedro I, e escreveu o documento que foi assinado por várias autoridades.
Beneditinos e carmelitas se estabeleceram em 1590
Além de serem presença orante na cidade, os beneditinos tinham influência econômica em virtude de suas fazendas de cana-de-açúcar. O mosteiro beneditino do Rio de Janeiro foi fundado em 1590 por monges vindos da Bahia, a pedido dos próprios habitantes da recém fundada cidade de São Sebastião.
Além disso, participaram de fatos históricos relevantes da cidade, como a guerra contra os franceses. De acordo com Dom José Palmeiro Mendes, abade emérito do mosteiro de São Bento e atual prior, o mosteiro estava em um ponto estratégico e possibilitou a defesa da cidade. Além disso, depois da chegada de Dom João VI, os monges deram abrigo a membros da corte e  acabou servindo de quartel no reinado de Dom Pedro I.
“A Igreja está intimamente relacionada com a história da cidade. A presença da religião era muito forte. Os portugueses eram religiosos por excelência”, destacou Dom José. De acordo com ele, um dos nomes importantes da história do Rio foi Dom frei Antônio do Desterro, beneditino que foi bispo entre 1745 e 1773.
Os carmelitas estão no Rio de Janeiro em três ramos: frades, monjas e seculares. De acordo com o carmelita secular Elcio Deccache, há também outras congregações com o carisma carmelita que vivem outras formas de vida. “Essa riqueza de formas de viver o carisma se deve em muito à regra de Santo Alberto, e por isso está presente também entre os carmelitas da antiga observância”, ressaltou.
O Rio de Janeiro também foi o primeiro lugar do mundo a ter uma igreja dedicada a Santa Teresinha. A igreja foi inaugurada na Tijuca, em 1927, apenas dois anos depois que a jovem santa foi canonizada pelo Papa Pio XI.

Faltando menos de um ano para o Rio de Janeiro completar 450 anos de fundação, é tempo de planejar as comemorações. A Igreja Católica terá uma participação decisiva no calendário comemorativo. Uma das principais festas da cidade, São Sebastião, no dia 20 de janeiro, deverá ser um dos marcos dessas comemorações que se estenderão de 31 de dezembro deste ano até 1º de março de 2016, quando o Rio completa 451 anos e o comitê entregará a cidade para as olimpíadas.  O prefeito Eduardo Paes assinou um decreto reconhecendo como patrimônio imaterial da cidade duas manifestações católicas muito importantes no nosso calendário: a festa do padroeiro São Sebastião e a bênção da primeira sexta-feira do ano, que os capuchinhos realizam na Paróquia São Sebastião, na Tijuca.

(Teresa Fernandes - Site da Arquidiocese)