
Neste final de semana iremos iniciar o ano
de preparação para a festa dos 450 anos da cidade de São Sebastião do Rio de
Janeiro, quando celebraremos também os 60 anos do único Congresso Eucarístico
Internacional no Brasil, até agora, ocorrido no Rio de Janeiro. Tempos
comprometedores que nos conduzem a oferecer à cidade o nosso grande presente,
que é uma cidade mais justa e mais humana, que leve seus habitantes a viverem o
“amor ao próximo” como Cristo nos ensinou.
Estamos às vésperas de iniciar a Quaresma e
a Campanha da Fraternidade. Convido a todos para iniciarmos bem esse belo tempo
de conversão.
A Arquidiocese vive o Ano da Caridade e
acreditamos que “só o amor constrói”. E quando este se compromete com o próximo
todas as situações, mesmo as mais complexas, adquirem outra conotação, como
vimos ocorrer durante a JMJ Rio 2013.
O mundo continua em ebulição e busca de
sentidos para a vida do ser humano. As violências e as guerras comprovam que o
homem ainda não aprendeu a conviver um com o outro. A busca de outro planeta
habitável, que ainda não acharam, demonstra a necessidade de olhar para fora,
tentando encontrar caminhos de explicação para si mesmo. Por enquanto, este
planeta é o único que podemos habitar e somos chamados a viver uns com os
outros, mas infelizmente ainda não aprendemos a fazê-lo. Os progressos na
comunicação, ciências, transportes, medicina, pesquisas – tão importantes e que
têm transformado a biosfera –, no entanto, não transformaram o coração das pessoas.
É dentro desse contexto que o Papa
Francisco me chamou para integrar o grupo restrito de cardeais, que tem o grave
e importante encargo de estar próximo do pastor de mais de um bilhão de
católicos e líder mundial com influência importantíssima no mundo de hoje.
A participação no consistório
extraordinário e as celebrações no consistório público foram de uma experiência
marcante, seja pela espiritualidade, seja pela universalidade que se respira
nesse ambiente. Foi um grande dom poder participar desses momentos. O primeiro
grupo de cardeais criados pelo Papa Francisco nos compromete ainda mais em seus
trabalhos de renovação da estrutura da Igreja, no diálogo com a sociedade, com
a busca da paz e fraternidade, com o final da fome no mundo, com a preocupação
com os refugiados e com a busca do essencial na procura da conversão que nos
leve à santidade.
A data escolhida – Cátedra de São Pedro –
demonstra a necessidade de unidade com aquele que nos confirma na fé e, ao
mesmo tempo, nos convida a ser testemunhas do grande anúncio que é a pedra que
Pedro pronunciou: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”.
As celebrações do Te Deum no Colégio Pio
Brasileiro, da missa nas catacumbas de São Sebastião, a de acolhida aqui na
Catedral do Rio de Janeiro e as visitas à Paróquia que me foi dada como título
de Cardeal Presbítero de Nossa Senhora, mãe da Providência em Roma, à casa das
Irmãs da Madre Tereza em Bonsucesso à chegada ao RJ, assim como a acolhida dos
cumprimentos tanto na Sala Paulo VI em Roma, como aqui dos funcionários do
Edifício João Paulo II, das pessoas que espontaneamente vieram ao São Joaquim,
das autoridades convidadas para o São Joaquim ou no Palácio das Laranjeiras
foram oportunidades de agradecer a todos pelo carinho e pelas orações. Sei que
uma grande missão como essa que recebo só terei capacidade de realizá-la se for
com a intercessão de todos.
Saliento a oportunidade de me sentir unido
e agraciado com as presenças nessas várias ocasiões, tanto em Roma como no Rio
de Janeiro, de comunidades cristãs diversas e outras religiões que enviaram
seus representantes. Assim como a abertura das pessoas de boa vontade que
querem a transformação da sociedade.
Agora, nos próximos meses, terei
oportunidade de visitar obras sociais específicas em cada vicariato, sinalizando
que, neste Ano da Caridade, esta missão precisa ser intensificada em nossa
Arquidiocese. Para isso, entreguei a carta pastoral “Amar, unir, servir”, a
qual peço a todos para que reflitam e divulguem. O trabalho, agora aumentado,
também continua. E, é claro, necessito da compreensão de todos para poder
acolher todas as necessidades que existem em nossa Arquidiocese. E, assim,
levar as pessoas a acolherem a salvação em Cristo Jesus.
A cada um dos que enviaram cumprimentos,
seja pelos meios eletrônicos (internet, e-mail, torpedos, aplicativos), por
carta, cartões, telegramas ou mensagem de voz por telefone – meus
agradecimentos sinceros e meu pedido de orações. A todos os que espontaneamente
foram até Roma participar dessa peregrinação o meu afeto sincero, assim como os
que estiveram presentes nas várias celebrações aqui no Rio de Janeiro. Pessoas
de tantos lugares diferentes e mesmo dos vários grupos italianos que foram
manifestar sua fraternidade e compromisso de orações. Terei também a
oportunidade de celebrar em alguns locais aqui no Brasil que fazem parte de
minha vida e minha história e rever pessoas que partilharam dessa caminhada.
Esses momentos têm sido oportunidades de
gratidão e louvor a Deus. Penso que tudo isso deve ser para a maior glória de
Deus e a um compromisso ainda mais com o “sentir com a Igreja”. Sei da grande
responsabilidade que pesa sobre os meus ombros, mas, como disse na celebração
em nossa catedral: essa dimensão universal deve ser vivida por todos nós. Ao
mesmo tempo, de certa forma, todos que se sentiram nomeados junto comigo
estarão espiritualmente em nossas viagens e decisões a serem tomadas ou
aconselhadas.
Diante de um mundo complexo e que nos
influencia localmente, a missão universal a que fui chamado me compromete ainda
mais na busca da santidade, e pedindo ao Senhor perdão dos meus pecados e o dom
da sabedoria para poder levar adiante essa missão.
O acolhimento e a alegria de todos que me
cumprimentam comovem-me e me fazem ainda mais comprometer-me no caminhar com
todo o povo de Deus! Não é à toa que o Papa Francisco me falou que “somos todos
ladrões porque roubamos o seu coração”! Essa característica do nosso povo é
linda e, por isso, peço a Deus que possa ser mais difundida e contagiar ainda
mais a todos na procura de viver “amando-nos uns aos outros”, como Jesus nos
pede no Evangelho.
Com estas palavras simples, profundas e
comprometedoras do “amor ao próximo”, olho com esperança para o horizonte vasto
e, em unidade com o Papa Francisco, caminhamos à procura de um mundo mais justo
e fraterno.
Arcebispo Cardeal D. Orani João Tempesta
Arquidiocese de São Sebastião do Rio de
Janeiro