TOMAI, COMEI, ISTO É O MEU CORPO


Hoje, primeira quinta-feira após o domingo da Santíssima Trindade, a Igreja comemora a festa do Corpo de Cristo. Neste ano, como outras festas passadas, será diferente, não estaremos unidos em nossos templos, não teremos a procissão com o Santíssimo e nem os tão esperados tapetes de sal. Estaremos distantes, porém juntos em oração.
Mas, você sabe como a festa de Corpus Christi foi introduzida no calendário litúrgico?

Por volta do ano de 1209, na cidade de Liège, Bélgica, uma monja agostiniana, do mosteiro do Mont Cornillon, de nome Juliana começou a frequentar o Movimento Eucarístico existente no mosteiro. O principal objetivo deste movimento era a realização de obras de caridade e adoração ao Santíssimo Sacramento.
Quando tinha cerca de 16 anos, em uma das adorações, Juliana teve uma visão, uma lua que continha uma mancha escura. A partir de então está imagem aparecia constantemente à jovem freira toda vez que ia ao encontro de Jesus Eucarístico. Até que um dia decidida a abandonar a angústia que lhe rondava, perguntou a Jesus o que aquela imagem significava. Em seu coração Juliana recebeu a resposta de que a lua simbolizava toda a vida da Igreja e a mancha que ela carregava era a festa que faltava para a Igreja, uma festa em honra ao Corpo de Cristo.

           Santa Juliana de Mont Cornillon


Só depois de vinte anos Juliana conseguiu revelar este segredo é escolheu duas amigas: a Beata Eva e a irmã Isabella, que passaram a se reunirem as escondidas para adorarem ao Santíssimo Sacramento.
Com o tempo, no intuito de discernir se aquelas visões de Juliana vinha mesmo de Deus, as monjas procuraram alguns teólogos da época para auxiliá-las, dentre eles : Dom Roberto do Thourotte, Bispo de Liège e o Arquidiácono Tiago Pantaléon di Troyes, que viria a se tornar o Papa Urbano IV.
Após hesitações iniciais, Dom Roberto acolheu os apelos das freiras para a realização da festa Corpus Domini, nome dado por Juliana. A primeira festa de Corpus de Christi ocorreu na paróquia de Saint Martin, dias depois do domingo da Santíssima Trindade. Só depois de um tempo a festa passou a circular pelas ruas da cidade, o que fez com que outros bispos levassem está devoção para suas dioceses.

             UM MILAGRE EUCARÍSTICO

Em 1261, Tiago Pantaléon se torna Papa Urbano IV, o centésimo octogésimo terceiro Papa da igreja Católica. Mesmo depois de decorrido tanto tempo, Urbano ainda remoia o que ouvira de Juliana um dia. Até que em 1263, a igreja sofria um período muito difícil e Urbano, perseguido, vai para cidade de Orvieto, Itália. No mesmo período, um sacerdote alemão, da Bohemia, chamado Pedro de Praga, piedoso, porém angustiado por forte dúvida de fé. "Será que a Eucaristia é realmente Nosso Senhor Jesus Cristo?", se perguntava o jovem sacerdote. Disposto a restaurar a sua fé, Pedro partiu em peregrinação a Roma, para visitar os túmulos dos Santos Pedro e Paulo, chamados de colunas da fé. 

                       Papa Urbano IV


A resposta para a incerteza deste padre veio em um grande milagre Eucarístico, na cidade de Bolsena, Itália, na igreja de Santa Cristina, onde celebrava a Santa Missa. Durante a consagração, ao repetir as palavras de Jesus: "Sumite, hoc est corpus meum" e erguer a hóstia, dela escorreu sangue, ao ponto de sujar o corporal do altar. Ao tomar ciência do fato, o Papa Urbano IV, que se encontrava cerca de 21km de distância da cidade de Bolsena, pediu ao bispo Santiago que levasse até ele as relíquias milagrosas para serem avaliadas.
Após a avaliação, em 1264, e a certeza de que se tratava de um sinal divino, Urbano percebeu que era a resposta de Deus sobre as visões da monja Juliana que tanto lhe tomava o pensamento. Em agosto daquele mesmo ano, o Papa escreveu uma bula intitulada Transiturus, determinando que a festa em honra ao Corpo do Senhor seria celebrada na primeira quinta-feira após a oitava de Pentecostes.

                   São Tomás de Aquino 

Para esta grande celebração, Papa Urbano IV desejava ardentemente um ofício à altura do homenageado para ser rezado na Santa Missa e para isso pediu a dois grandes teólogos da Igreja para que o escrevessem. Os incumbidos foram : o dominicano Tomás de Aquino e o franciscano Boaventura. No dia combinado para apresentarem suas obras, Urbano IV pediu para que lessem a de São Tomás primeiro. Ao ouvir a maravilha escrita pelo dominicano, São Boaventura, em um ato de grande humildade, rasgou a sua obra sem deixar que se tomassem conhecimento. O que eles ouviram naquele dia foi o "ADOROTE DEVOTE", rezado ainda hoje nas celebrações de Corpus Christi.
De fato o milagre ocorrido em Bolsena foi crucial para que o Papa Urbano IV começasse a difundir está devoção. Porém, sua morte no mês seguinte da criação da bula, fez com que sua publicação fosse prejudicada e limitou a celebração à algumas regiões da Alemanha, França, Hungria e Itália.
Somente depois de cinquenta anos, o Papa João XXII retomou a bula e espalhou esta devoção pelo mundo. E assim foi introduzida a festa de Corpus Christi no calendário litúrgico.

                         São Boaventura 


                      CURIOSIDADES

• O Movimento Eucarístico frequentado por Santa Juliana foi fundado em 1124 na abadia de Cornillon.

• Este Movimento era formado por mulheres generosamente dedicadas ao culto Eucarístico e à comunhao fervorosa.

• Dom Roberto do Thourotte morreu antes da festa de Corpus Christi ser celebrada na diocese de Liège.

• As relíquias do milagre se encontram na catedral de Orvieto, Itália.


• Santa Juliana faleceu em, 1258, na cela onde estava exposto o Santíssimo Sacramento. 

• Foi canonizada em 12 de março de 1622, por Clemente VIII. 

• Sua festa litúrgica é comemorada de 05 de abril.

• Segundo o Código de Direito Canônico, o bispo diocesano é responsável por organizar a procissão de Corpus Christi. Sem poder se ausentar de sua diocese neste período.

• Os tapetes de sal utilizados na procissão é de tradição portuguesa, trazida pelos colonizadores. Está tradição teve início no Brasil na cidade de Ouro Preto, Minas Gerais.

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